Entrevista com Caroline Dreher sobre desmatamento no Brasil

Marina Manes
3 min readJun 7, 2021

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A engenheira ambiental explica sobre o período das queimadas e a influencia do governo no crescimento delas

Caroline Dreher engenheira ambiental formada pela Universidade Federal Fluminense do Rio de Janeiro, explica sobre os dados de queimadas e desmatamento ambiental no Brasil, como funciona a coleta deles, os seus impactos ambientais e na nossa qualidade de vida.

“O desmatamento se próximo a áreas urbanas principalmente quando associado a pavimentação urbana pode causar problemas como enchentes nas ruas provocando alagamentos e destruição de casas. Na área de floresta, por exemplo, pode também causar extinção devido à perda de biodiversidade. Entre outros impactos não só ambientais, mas também como sociais, uma vez que muitas pessoas dependem de solo fértil para alimentação e disponibilidade de água para consumo. ”

Marina Manes: Ano passado foi um ano em que a pauta do desmatamento no país esteve muito em alta. Em dados do INPE, vemos que 2020 foi o ano que mais teve alertas de incêndios desde 2015, quais as maiores causas para isso ter ocorrido que podemos identificar? A pandemia que vivemos pode ter tido alguma influência?

Caroline Dreher: “Creio que esse aumento nos alertas de incêndio possa ser devido à baixa de fiscalização, consequência pela falta de redimensionamento no quadro de pessoas trabalhando nos órgãos fiscalizadores (já tem um tempo que não abre concurso para o IBAMA), bem como sucateamento dos órgãos ambientais, que mal tem carro para trabalhar (como vi em relatos de pessoas que trabalham nesses órgãos, “quando tem carro disponível, não tem verba para combustível).”

“Essa situação só se resolve se houver “vontade” por parte do governo e do próprio Ministério do Meio Ambiente. Talvez a pandemia tenha de fato potencializado isso a partir do momento que se voltaram os olhos da mídia e os recursos do governo para a minimização dessa crise, acaba que o meio ambiente fica em segundo plano. ”

Marina Manes: Se os dados do ano passado foram altos, esse ano comparado a eles, estão bem baixos, caindo 34% no mês de fevereiro. Você acredita que as medidas adotadas pelo governo podem ter ajudado? E que outros fatores podem estar ajudando na prevenção do desmatamento no Brasil?

Caroline Dreher: “o mês de fevereiro é verão, o período mais quente, mas não necessariamente mais seco, pode ser algo sazonal pois no verão chove mais. Depende da região e outros fenômenos naturais tais como El Niño e La Niña. Em geral incêndio natural é causado por tempo seco, como o exemplo dos incêndios que ocorrem na Califórnia. Casos de incêndio criminoso pode ocorrer em qualquer época do ano e está principalmente relacionado com o uso de terra para plantio e gado. Acredito que o ser humano pode se aproveitar de qualquer desvio de foco quando mal-intencionado. Precisaria analisar esses dados mais a fundo para poder dar uma resposta mais precisa ”

“Sou meio cética para acreditar que esse governo atual tenha feito algo efetivo para o meio ambiente. ”

Marina Manes: Como funciona a metodologia de rastreio do INPE? Quais seriam as maiores dificuldades em rastreamento como o do desmatamento?

Caroline Dreher: “Até onde me recordo, o INPE usa dados de satélites americanos e de outros países, o que gera uma dependência, além de vulnerabilidade quanto ao conhecimento de possíveis informações estratégicas. Dificuldades podem estar relacionadas a esse fato. ”

Marina Manes: Você considera o mapeamento de queimadas por meios de drones e satélites uma forma segura de adquirir os dados? Existem riscos deles serem manipulados?

Caroline Dreher: “Considero uma boa estratégia complementar ao uso de satélites. Sempre há riscos de manipulação.”

“É importante que pessoas competentes, treinadas e engajadas estejam na linha de frente usando esses instrumentos. ”

Confira a matéria “Queimadas e desmatamento no Brasil: uma questão de oxigênio e qualidade de vida”

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Marina Manes
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Estudante de Jornalismo na Facha, cursando o sétimo período.